quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

talvez - uma vida incomum como qualquer um 29

   














 uma vida incomum como qualquer um 29

talvez

Abstraio o tempo. Antecipo o futuro, vivo agora o que desejo. Mas hoje foi ontem: hoje tento separar minhas neuroses das de outros. Não posso viver o que não é meu.

Isto tem sido aplicado no meu dia-a-dia atual. No trabalho, especialmente. É que a instituição em que vivo está confusa, insegura. Não tenho informações suficientes para avaliar. Quando falo eu, talvez represente nós.

Sei que os dirigentes não tomam conhecimento do que realizo. E assim não recebo reconhecimento. Como tenho estado seguro em relação ao que crio e faço, vou em frente. Arrisco. A ética me guia. A missão da instituição me facilita: trabalho pelo bem-estar de menos favorecidos, articulo redes comunitárias, fomento circulação de informações de interesse coletivo.

Talvez algumas causas da insegurança institucional estejam na sua cúpula. Tudo talvez: briga de cachorro grande pelo poder? Que inclui interferir no cotidiano e no futuro de mais de mil funcionários, no destino de centenas de milhões de reais – dinheiro público – disponíveis anualmente, na utilização da infraestrutura física e técnica construída nos últimos sessenta anos.

Periga a credibilidade, interna e externa. A rádio-corredor traz notícias, saiu ontem o diretor- geral, entra o terceiro deste ano. Neste mais de 8 anos aqui, não conheço um funcionário próximo que tenha tido acesso humanista ao presidente.

Um e outros funcionários são demitidos. Tudo isto sem nenhum comunicado ao conjunto dos que trabalham. Se as avaliações são pelos erros, “melhor nada fazer”. A sensação é de desproteção, menosprezo. Parece que a insuficiente inteligência emocional da cúpula estimula o desequilibro do corpo da instituição. Interrupção brusca de projetos, ausência de definições, corte nas comunicações humanas são base para insegurança e desmotivação crescente.

Ficam dúvidas: como pode um diretor geral com formação em finanças – pressupõe-se interesse prioritário pelo lucro financeiro – cuidar de uma instituição cuja missão visa lucro social? Como pode uma instituição com fins sociais ter um fabricante e comerciante de bebidas alcoólicas como seu presidente?

Talvez até estejam sofrendo lá em cima. Nem posso ser solidário se nada sei. Talvez não saibam que sua função é servir ao público, facilitar o trabalho dos que comandam.

Talvez, também, esta insegurança coletiva esteja contribuindo para o afloramento de doenças em outros, como em mim.

E talvez um ou outro – cada um dos funcionários? – não esteja exercendo a responsabilidade incômoda de expressar juntos seus incômodos.

Escrevi o texto acima, focado no Sesc Rio, onde trabalhei por 10 anos, em 2011. As reflexões, abaixo, são mais recentes, têm origem no que agora vivo, em 2017.

Viajo em meus pensamentos. Vagueio em mim, tento me encontrar. Um turbilhão. Ninguém saberá o que não digo. Nem saberei o que não disse quem eu procuro. Mais um dia assim, eu longe de mim.

Afim de outra história, a caça enlaça o caçador. É o amor. Meu desejo seja o destino de sua procura.

Gasto tanto tempo tentando mudar o comportamento do outro e me esqueço de mudar, em mim, este vício de querer mudar o outro.

Pura consciência, às vezes o diagnóstico mata mais que a doença.

Dinheiro tem preço. Sempre, um tanto da vida.

Minorias são maioria. A menor delas, eu.

Se me trato bem, profundo, trato bem o mundo. Todo afeto, um sucesso.



Luiz Fernando Sarmento











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