segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

pedaços do passado - uma vida incomum como qualquer um 32

   



 uma vida incomum como qualquer um 32

pedaços do passado



Não sei definir direitinho meu estado civil. Há momentos em que sou maridão. Feira juntos, disponível na manutenção da casa, furadeira empunho, retratos na parede, qual chá hoje? Relatos ao telefone, TV cedinho, só vou se você for, o que você quer que eu queira pra que eu querer.

Canso, sensação de aprisionamento, de viver uma vida que não é minha. Gota d’água, me rebelo. Volto pra minha base solitária, repito, invento, reinvento rotinas. Viro namorado, duas vezes por semana. Cinema, passeio, cada um cuida do que se propõe, volto aos meus projetos, escrevo, gravo, alguns encontros com amigos. Em intervalos, sentimentos de solidão.

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Tudo muda a cada instante, também sei. Não sei definir com precisão minha profissão. Leio com frequência. Na cabeceira literatura psi, romances, esporadicamente livros técnicos, revistas. Jornal, uma vez por semana? Vejo um bom filme, leio algo que me fica, sei de uma notícia interessável, falo com um e outro, reproduzo, distribuo, imeio.

Penso como rede. Raciocínio inverso, a partir dos objetivos, planejo de lá pra cá. Há muito tempo tinha vergonha de falar o que pensava. Terapia, convivência com gente mais resolvida que eu, leituras, dois passos pra lá, um pra cá, ampliei no meu tempo minhas limitações, comecei a me expressar.

Hoje primo por livres associações, ora foras, ora dentro em cheio. Se me incomoda o incômodo de outros, tento distinguir o que é meu, o que é de outros. Sei que me sinto vivo quando vivo o que escolho, o que sou eu.

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Um ontem, gravei em Barra do Piraí um encontro de terapia comunitária. Paula, a terapeuta. Praça principal, gente mais velha, o tema escolhido foi a preocupação com os filhos, mesmo os já adultos.

É um que bebe e fuma, outro que anda de motocicleta, chega tarde e assim vai. Uma senhora se emociona ao relembrar a recente morte, AVC, de pessoa próxima. Alguém inicia uma música, abraçam-se em roda, balançam enquanto cantam, trocam olhares compreensivos, ternos. Um ou outra que permanecia mudo se expressa, ainda tímida, voz baixa, bota pra fora o que lhe incomoda. Uns quantos chegaram solitários, partem agora um tanto solidários. Sexo não tem idade. Sexualidade.


Pra ler no banheiro


Se me conheço, cresço. Conhecimento é poder. Do que não sei, não usufruo.

Imagino tanta gente, como eu, em busca de si mesmo. Ora focado ora a esmo.

Administro sentimentos, é o que penso. Sentimentos administram meus pensamentos.

Quando escolho o médico, escolho o tratamento.

Saúde dá lucro pra quem tem. Doenças dão lucros pra quem lucra com elas.

Parece, a vida é assim, do jeito que escolho. Quando volto pro meu umbigo, reflito.

Mas, me completo, mesmo, é com quem se completa comigo. E eu consigo.

Intimidade, melhor com afinidade. Mexe, remexe, nós juntos, uma creche.


Luiz Fernando Sarmento








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