uma vida incomum como
qualquer um
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pedaços do passado
Não
sei definir direitinho meu estado civil. Há momentos em que sou maridão. Feira
juntos, disponível na manutenção da casa, furadeira empunho, retratos na
parede, qual chá hoje? Relatos ao telefone, TV cedinho, só vou se você for, o que
você quer que eu queira pra que eu querer.
Canso,
sensação de aprisionamento, de viver uma vida que não é minha. Gota d’água, me
rebelo. Volto pra minha base solitária, repito, invento, reinvento rotinas.
Viro namorado, duas vezes por semana. Cinema, passeio, cada um cuida do que se
propõe, volto aos meus projetos, escrevo, gravo, alguns encontros com amigos.
Em intervalos, sentimentos de solidão.
#
Tudo
muda a cada instante, também sei. Não sei definir com precisão minha profissão.
Leio com frequência. Na cabeceira literatura psi, romances, esporadicamente
livros técnicos, revistas. Jornal, uma vez por semana? Vejo um bom filme, leio algo
que me fica, sei de uma notícia interessável, falo com um e outro, reproduzo,
distribuo, imeio.
Penso
como rede. Raciocínio inverso, a partir dos objetivos, planejo de lá pra cá. Há
muito tempo tinha vergonha de falar o que pensava. Terapia, convivência com
gente mais resolvida que eu, leituras, dois passos pra lá, um pra cá, ampliei no
meu tempo minhas limitações, comecei a me expressar.
Hoje
primo por livres associações, ora foras, ora dentro em cheio. Se me incomoda o
incômodo de outros, tento distinguir o que é meu, o que é de outros. Sei que me
sinto vivo quando vivo o que escolho, o que sou eu.
#
Um
ontem, gravei em Barra do Piraí um encontro de terapia comunitária. Paula, a
terapeuta. Praça principal, gente mais velha, o tema escolhido foi a preocupação
com os filhos, mesmo os já adultos.
É
um que bebe e fuma, outro que anda de motocicleta, chega tarde e assim vai. Uma
senhora se emociona ao relembrar a recente morte, AVC, de pessoa próxima.
Alguém inicia uma música, abraçam-se em roda, balançam enquanto cantam, trocam olhares
compreensivos, ternos. Um ou outra que permanecia mudo se expressa, ainda
tímida, voz baixa, bota pra fora o que lhe incomoda. Uns quantos chegaram
solitários, partem agora um tanto solidários. Sexo não tem idade. Sexualidade.
Pra ler no banheiro
Se me
conheço, cresço. Conhecimento é poder. Do que não sei, não usufruo.
Imagino
tanta gente, como eu, em busca de si mesmo. Ora focado ora a esmo.
Administro
sentimentos, é o que penso. Sentimentos administram meus pensamentos.
Quando
escolho o médico, escolho o tratamento.
Saúde dá
lucro pra quem tem. Doenças dão
lucros pra quem lucra com elas.
Parece,
a vida é assim, do jeito que escolho. Quando volto pro meu umbigo, reflito.
Mas, me completo, mesmo, é
com quem se completa comigo. E eu consigo.
Intimidade,
melhor com afinidade. Mexe, remexe, nós juntos, uma creche.
Luiz
Fernando Sarmento
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