segunda-feira, 19 de março de 2018

tanta coisa na cabeça e misturado - uma vida incomum como qualquer um 42





tanta coisa na cabeça e misturado

Agradeço àqueles que cultivam a terra, que produzem, que transportam, armazenam, comercializam o que como.

Agradeço àqueles que canalizam a água, a mantém potável, fazem a água chegar até mim.

Agradeço àqueles que facilitam minha vida, me respeitam e a si, se educam e a mim, amam a si e ao outro, que sou eu e outros e outras.

Agradeço àqueles que me fazem bem e nem me conhecem. Sinto, somos mutantes, vivas tribos, semelhantes.

Aqui ao meu redor, atento, tento fazer o que está ao meu alcance, ao cuidar de mim como ao outro, ao cuidar de outros como a mim.

Este meu desafio constante, ser mutante, semelhante.

Inda não aprendi esconder cheiros de meus medos.

Minha fortuna, meu infortúnio. Meu prisioneiro, minha prisão. Descubro, aliviado, o que possuo me possui. Não sou eu que tenho o cachorro. O cachorro é que me tem. Vivo, um tanto, em função do que o cachorro me solicita. E, bobeira, se tenho um bibelô, passo parte da vida inteira a passar espanador. Dinheiro, então, um trabalhão danado. Ganhar, perder, manter o safado. Lembro um poeta, poetão: perdi minha vida por educação.

Responder, responder, não consigo: o que acumulo, por quê?

Como limite, internalizo uma regra de ouro: não faço a outro o que não desejo me façam.

O movimento hippie ampliou meu mundo. Tudo tão novo e tão simples. A comida, a música, a atitude, o amor.

Sou melhor escutado quando falo do que vivo. Sou menos escutado quando falo o que outro deve ser, fazer.

Eu me interesso mais pelo que o homem é do que pelo que diz.


Tenho tido o maior cuidado com minhas expectativas, especialmente em relação a outro. Se não falo do meu desejo para o outro, como o outro saberá do meu desejo?

Quem participa dos frutos do seu trabalho cuida do trabalho como se fosse seu. E é.

E quando me pergunto, ao espelho: o que está ao meu alcance, hoje, pra tornar este mundo melhor? Uma resposta, entre muitas que inda desconheço, me vem:

cuidar de mim, cuidar do outro como cuido de mim. Cultivar a todo momento os afetos que me fazem contente, com os que comigo se relacionam e estão ao meu alcance:

o jornaleiro, jornalista, o feirante, o trocador, o motorista, o comerciário, o camelô, os filhos, os vizinhos, as amigas, os amigos, os que me servem, a quem eu sirvo, os doentes, os sãos, os parentes... e cada um com quem cruzo na rua e se, antes, não via, agora, atento, vejo. É meu desejo: aprendo a cuidar do outro quando cuido de mim. Gentileza gera gentileza. E, quando não gera, é que o outro inda não aprendeu.

Minha vida está melhor quando conheço um pouco mais de mim mesmo. Quanto mais me conheço, melhor cresço.

Nem sempre é, nem sempre foi assim, diferente. Cientista de mim mesmo, descubro: estou rico quando estou contente.




Luiz Fernando Sarmento












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