quinta-feira, 31 de maio de 2018

poliamor - uma vida incomum como qualquer um 52


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poliamor


“Amar sem limites.” Amar um e outra, uma e outro, às claras. Amar tanto que desejo o bem do outro quanto meu próprio bem. Desejar e realizar este amor pleno, aclamado por quem, também, me ama. Ama tanto que, como eu, deseja meu bem e desconhece os ciúmes.

Meu amor, o poliamor, me permite amar aqui e ali, ao mesmo tempo. Este amor que me possibilita ser amado lá e cá e libera meus sentimentos.

No amor platônico, amo o que desejo. E desejo o que me faz falta, desejo o que não tenho. “Amo o que não tenho. E, quando tenho, já não amo mais.“

No amor aristotélico, amo o que tenho, amo o que sou. Este o amor que aprendo. E, quando amo, me satisfaço com meu amor. Uma alegria, amar o que sou, o que é.

Sinto o amor crístico quando amo a todos, indiscriminadamente. Amo ao próximo, quem seja o próximo, como a mim mesmo. Sou amor quando amo a mim, a outra, a outro, a Humanidade. E amo, mais que à Humanidade, amo a vida.

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E, no dia a dia, lerdo e gaguejante, como nesta manhã dominical, me alegro quando confirmo, o amor é lindo e me envolve. A vida tá boa, do jeito que tá. Acho é bonito estes equilíbrios dinâmicos, sinais de vida em cada vida amiga ao redor. Nada falta aqui, nem o supérfluo. Pura alegria. Como o filósofo diria, felicidade – aquele momento que desejo não acabe.

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Lembro, me lembro, tudo um tanto relativo. O cheio existe porque existe o vazio. Existe a tristeza porque a felicidade existe. O calor é o oposto do frio. O amor, o ódio. A riqueza, a pobreza. A escuridão, a luz. E um não exclui o outro.

No mesmo momento, eu – como, imagino, outras pessoas – penso em opostos, sinto contraditórios sentimentos, só vivo o que percebo. E, tantas vezes, eu, aqui, a perceber só a tristeza, com a felicidade ao meu alcance. Tudo tão simples e tão complexo. Tudo ao mesmo tempo, agora e aqui. Rápido como um momento. Na divagação, reconheço o que tenho em mim, escolho, me perco, me encontro.

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Parece que, há muito tempo, nos primórdios da humanidade, viviam grupos de gente em diferentes estágios de evolução integral. Neandertais, pitecantropos, sapiens, tudo ao mesmo tempo, na mesma época, em territórios diferentes.

Talvez como agora, ao mesmo tempo, às vezes no mesmo território, gente a construir a guerra, gente a praticar a paz. Alguns sentem aquele vazio amoroso que não sabem de onde vem. E buscam suprir esta falta de afetos, este vazio, com objetos. Círculo vicioso, os objetos não suprem as faltas de afetos. Sentem, estes, que o mundo lhes deve. E sofrem, em suas aparentes riquezas.

Outros – às vezes os mesmos, o amor desperto – amam e se sentem supridos. Contentes no presente. Contentes no momento do primeiro passo pro abraço, da escolha do que deseja e é.
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Este amor liberto tudo muda. Quem ajudado, agora ajuda. Eu, antes feio, me torno belo. Parece possível – a mim, a cada um que deseje, usufrua das possibilidades e se movimente – experimentar seu caminho do coração. O amor é um caminho. Qualquer forma de amor “vale a pena, se a alma não é pequena”.

Tento e aprendo, só dou o que tenho. Só posso amar a outro quando amo a mim mesmo. Naturalmente, de acordo com meu desejo, possibilidade, movimento.

Aqui se inicia o ciclo virtuoso.



Luiz Fernando Sarmento









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