uma vida incomum como qualquer um 09
Relações humanas
Relações humanas incluem
relações emocionais. O que me leva ou o que me impede relacionar com outro? Às
vezes esporádicos, os METS – Movimento Emocional e Transformações Sociais, encontros
periódicos que criamos – Michel Robim e eu - e realizávamos no Sesc Rio, procuravam
congregar quem considera desenvolvimento emocional como base para desenvolvimento
humano e social.
Demos um tempo nos
METS quando conhecemos as TCs – Terapias Comunitárias, criadas por Adalberto de
Paula Barreto. Nas TCs, teoria, metodologia e prática somam conhecimentos
acadêmicos e populares. A TC é política pública no Brasil, hoje. Pra saber
mais, vale visitar o www.abratecom.org.br ou o www.luizsarmento.blogspot.com.br ou o Youtube.
Os LPS – Livre
Pensar Social – eram encontros voltados para reflexões e fomento de políticas
públicas. Articuladores, apoiadores e realizadores deprojetos comunitários –
sem compromisso conclusivo ou deliberativo – compartilham ideias, informações e
reflexões focadas em desenvolvimento humano, social, integral.
Antes, ainda no
Sesc Rio, apoiado nas práticas por Lídia Nobre, a assistente social, criamos as
Redes Comunitárias, onde cada participante tem espaço para falar do que oferece
e do que procura em relação ao lugar que vive ou ao tema que lhe interessa. Pra
mim, redes comunitárias cuidam do objetivo. E terapia comunitária do subjetivo.
Como tudo, ou quase, na vida, varia.
A ideia das Agências
de inFormação deu motivo para que George de Araújo e eu, com apoio de Carolina
Pelegrino e Andrea Medrado, realizássemos os CCI – Comunicação Comunitária Interativa,
encontros de pessoas e instituições ativas e interessadas em levar e trazer
informações para quem não é escutado e para quem não é representado por mídias
formais. É gente que trabalha com jornais, rádios, TVs comunitários, folhetos,
alto-falantes, comunicação popular. Gente que leva e traz informações e
notícias, interage com seu público. E que, nos encontros, reflete sobre o que
faz e comunica, conteúdo e forma.
Estes encontros
muitas vezes foram sementes que geraram vínculos, parcerias e movimentos. Tudo em
ondas, frutos de contribuições de cada um, de acordo com suas possibilidades e
desejos.
Gravei em vídeo,
com apoio de muitos, muitos destes encontros. Cada editor – criação e muito suor
– deu personalidade a cada vídeo. Em sua maioria, os vídeos estão na internet.
Os ouvintes querem falar:
todos sabemos que
há gente procurando e oferecendo de um tudo. Quando se encontram e se entendem,
se suprem. Quando não sabem um do outro, oportunidades desaparecem.
Início do milênio,
Sesc Ramos, ao lado do Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. Fórum Transformações
Sociais – O que Pode dar Certo. Palestrantes experientes numa mesa, trezentas
pessoas na plateia. Nem mesmo falas interessantes interessaram aos presentes.
Em menos de uma hora, evasão. Das trezentas, somente umas cinquenta, sessenta
ficaram.
Levamos o microfone
ao público. Agarram, botam pra fora: “o governo não presta...“. Muita
gente na fila, todos querem falar. Eu, inseguro: “Peraí! Seja objetivo por
favor: o que você veio procurar aqui? O que você veio oferecer? Dois minutos
para cada um.”.
Pronto, surgiu o
jeito, a metodologia. Convidamos quem se interessasse para uma primeira
conversa, juntos. Em roda, os tratos iniciais - aqui, neste momento, somos
iguais em direitos e deveres. Encontro sem palestra nem eventos, só as falas
individuais...
Cada um sintetiza
quem-é-o-que-faz, se-representa-uma-instituição, o que procura, o que oferece. Tempo
limitado, um-dois-cinco minutos, dependendo de quantos estão presentes e do tempo
total que pretendemos estar juntos naquele encontro.
É um desafio sintetizar,
falar pouco e objetivamente. Aprendemos juntos. Para facilitar o controle dos
tempos individuais, há encontros em que utilizamos uma ampulheta, outros em que
batemos palmas no limite ou simplesmente avisamos, cordiais: tempo esgotado.
Depois que todos
falam, os interessados se deslocam para o café. E, ao redor da mesa, cada um
aprofunda a conversa com aqueles por cuja oferta-procura se interessou. Trocam
informações, ideias, se conhecem. Constroem parcerias.
Base das redes
comunitárias, os encontros são voltados para a construção de realizações, para a
prática de parcerias, através de pessoas representativas – interessantes e
interessadas – de comunidades e instituições privadas, públicas e do terceiro
setor.
De modo simples e
objetivo, cada representante se apresenta e fala o que veio procurar e o que
veio oferecer. Todos têm oportunidade de falar e ouvir. E, quando cada um sabe
quem é quem, o espaço se abre para o aprofundamento de relações e formação de
parcerias.
Normalmente os encontros
acontecem periodicamente – mensalmente, por exemplo – no mesmo local ou em espaços
alternados. A metodologia naturalmente é adaptável a cada realidade. O
importante é que gere os frutos desejados e possíveis.
Permanecem como
memória os classificados sociais e a lista de participantes. Nos classificados,
cada um descreve sinteticamente o que oferece, o que procura e dá seu nome,
telefone, email. Estes dados são posteriormente digitados e disponibilizados diretamente
para cada um – via email – e, quando possível, para o público em geral, também virtualmente
através da internet. Cópias xerocadas podem ser distribuídas para os
participantes de encontros posteriores. Estes classificados são cumulativos: a
cada encontro, novas ofertas e procuras, relativas a novos e antigos
interessados.
Rodízio criativo:
imagine uma
instituição de porte médio: empresa, serviço público, ong... Em consenso
interno, trabalhadores de um setor liberam um ou mais do grupo, por um ou mais
dias, para visitarem- -estagiarem em outros setores. Os que permanecem no setor
original cuidam do cumprimento do conjunto das suas obrigações normais. Esta a ideia
básica.
Parece ser bom para
a instituição – e para o trabalhador e seu grupo – que cada um tenha o olhar do
todo, além de capacitação aliada ao seu próprio desejo. E parece ser bom para
cada trabalhador ter acesso a oportunidades que facilitem acréscimos a seus
conhecimentos pessoais e profissionais. A prática tem ensinado o melhor
caminho.
Luiz
Fernando Sarmento
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