uma vida
incomum como qualquer um 27
talvez
Abstraio o tempo. 2011. Antecipo o futuro, vivo agora o que desejo.
Mas hoje foi ontem: hoje tento separar minhas neuroses das de outros. Não posso
viver o que não é meu.
Isto tem sido
aplicado no meu dia-a-dia atual. No trabalho, especialmente. É que a
instituição em que vivo está confusa, insegura. Não tenho informações suficientes
para avaliar. Quando falo eu talvez represente nós.
Sei que os
dirigentes não tomam conhecimento do que realizo. E assim não recebo
reconhecimento. Como tenho estado seguro em relação ao que crio e faço, vou em
frente. Arrisco. A ética me guia. A missão da instituição me facilita: trabalho
pelo bem-estar de menos favorecidos, articulo redes comunitárias, fomento
circulação de informações de interesse coletivo.
Talvez algumas
causas da insegurança institucional estejam na sua cúpula. Tudo talvez: briga
de cachorro grande pelo poder? Que inclui interferir no cotidiano e no futuro
de mais de mil funcionários, no destino de centenas de milhões de reais –
dinheiro público – disponíveis anualmente, na utilização da infraestrutura
física e técnica construída nos últimos sessenta anos.
Periga a credibilidade,
interna e externa. A rádio-corredor traz notícias, saiu ontem o diretor- geral,
entra o terceiro deste ano. Neste mais de 8 anos aqui, não conheço um
funcionário próximo que tenha tido acesso humanista ao presidente.
Um e outros
funcionários são demitidos. Tudo isto sem nenhum comunicado ao conjunto dos que
trabalham. Se as avaliações são pelos erros, “melhor nada fazer”. A sensação é
de desproteção, menosprezo. Parece que a insuficiente inteligência emocional da
cúpula estimula o desequilibro do corpo da instituição. Interrupção brusca de
projetos, ausência de definições, corte nas comunicações humanas são base para
insegurança e desmotivação crescente.
Ficam dúvidas: como
pode um diretor geral com formação em finanças – pressupõe-se interesse prioritário
pelo lucro financeiro – cuidar de uma instituição cuja missão visa lucro
social? Como pode uma instituição com fins sociais ter um fabricante e
comerciante de bebidas alcoólicas como seu presidente?
Talvez até estejam
sofrendo lá em cima. Nem posso ser solidário se nada sei. Talvez não saibam que
sua função é servir ao público, facilitar o trabalho dos que comandam.
Talvez, também,
esta insegurança coletiva esteja contribuindo para o afloramento de doenças em outros,
como em mim.
E talvez um ou
outro – cada um dos funcionários? – não esteja exercendo a responsabilidade incômoda
de expressar juntos seus incômodos.
Luiz
Fernando Sarmento
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