quarta-feira, 17 de maio de 2017

talvez - uma vida incomum como qualquer um 27

   



 uma vida incomum como qualquer um 27

talvez

Abstraio o tempo. 2011. Antecipo o futuro, vivo agora o que desejo. Mas hoje foi ontem: hoje tento separar minhas neuroses das de outros. Não posso viver o que não é meu.

Isto tem sido aplicado no meu dia-a-dia atual. No trabalho, especialmente. É que a instituição em que vivo está confusa, insegura. Não tenho informações suficientes para avaliar. Quando falo eu talvez represente nós.

Sei que os dirigentes não tomam conhecimento do que realizo. E assim não recebo reconhecimento. Como tenho estado seguro em relação ao que crio e faço, vou em frente. Arrisco. A ética me guia. A missão da instituição me facilita: trabalho pelo bem-estar de menos favorecidos, articulo redes comunitárias, fomento circulação de informações de interesse coletivo.

Talvez algumas causas da insegurança institucional estejam na sua cúpula. Tudo talvez: briga de cachorro grande pelo poder? Que inclui interferir no cotidiano e no futuro de mais de mil funcionários, no destino de centenas de milhões de reais – dinheiro público – disponíveis anualmente, na utilização da infraestrutura física e técnica construída nos últimos sessenta anos.

Periga a credibilidade, interna e externa. A rádio-corredor traz notícias, saiu ontem o diretor- geral, entra o terceiro deste ano. Neste mais de 8 anos aqui, não conheço um funcionário próximo que tenha tido acesso humanista ao presidente.

Um e outros funcionários são demitidos. Tudo isto sem nenhum comunicado ao conjunto dos que trabalham. Se as avaliações são pelos erros, “melhor nada fazer”. A sensação é de desproteção, menosprezo. Parece que a insuficiente inteligência emocional da cúpula estimula o desequilibro do corpo da instituição. Interrupção brusca de projetos, ausência de definições, corte nas comunicações humanas são base para insegurança e desmotivação crescente.

Ficam dúvidas: como pode um diretor geral com formação em finanças – pressupõe-se interesse prioritário pelo lucro financeiro – cuidar de uma instituição cuja missão visa lucro social? Como pode uma instituição com fins sociais ter um fabricante e comerciante de bebidas alcoólicas como seu presidente?

Talvez até estejam sofrendo lá em cima. Nem posso ser solidário se nada sei. Talvez não saibam que sua função é servir ao público, facilitar o trabalho dos que comandam.

Talvez, também, esta insegurança coletiva esteja contribuindo para o afloramento de doenças em outros, como em mim.

E talvez um ou outro – cada um dos funcionários? – não esteja exercendo a responsabilidade incômoda de expressar juntos seus incômodos.

Luiz Fernando Sarmento









Nenhum comentário:

Postar um comentário