uma vida incomum como qualquer um 11
incertas
2017
Aceitar estar sem nada pra fazer é uma arte.
Vagabundar é uma arte. Sinto a maior dificuldade em nada ter na agenda. Uma
sensação de liberdade, quando isto acontece, toma conta de mim. E voo. Cabeça
solta, viajo. E, assim sem mais nem menos, quando relaxo, chegam ideias.
Imagino estivessem por aí, no ar, nos espaços.
Tenho tido uma vida boa. Mais ainda depois que
limitei meus gastos ao que ganho. A vida mais simples, pra mim, tem sido
melhor. Aprendo cozinhar, lavar roupa, priorizar o que me faz bem, cuidar dos
meus tempos, cuidar de mim. Encontro amigos, movimento meu corpo, tenho
escolhido com que ocupo meu espírito.
Está ficando claro que a essência do que vivo é o
sentimento que tenho. Aprendo, agora, a ficar atento a meus sentimentos. O que
me toca, fica. Vivo, mesmo, é o que sinto. Quando percebo o que sinto, vivo.
Quando não percebo o que sinto, não vivo aquele sentimento.
Descubro, pouco a pouco, que alguns atos que faço
determinam sentimentos que terei. Por isto, tenho procurado estar atento e
escolher o que vejo, o que ouço, o que como, o que toco, bebo, cheiro, falo, o
que faço. E, também, atento às escolhas do que penso. Estas aparentemente
pequenas decisões de todo momento constroem meus sentimentos.
Que bom que esteja sendo tão simples, isto de eu
mesmo escolher sentimentos. Inda mais agora que, descubro, na essência, o que
sinto é a vida que vivo.
Tem o externo a mim, eu sei, cuja mudança não está
ao meu alcance. Tenho me limitado ao que está ao meu alcance.
Anos antes, em algum momento
Por limitações
humanas, quantas ideias, invenções, soluções simples foram e estão sendo
deixadas de lado por cada um de nós? O que faz com que alguém acumule o que não
necessita e que poderia ser útil para outros?
O preenchimento de
vazios dentro de si mesmos? Se vazios, que vazios seriam estes? Quais origens destes
vazios individuais que talvez gerem tanto consumo, tanta necessidade de poder?
Tenho feito a mim
estas perguntas que faço a outros. Pouco a pouco percebo como meus próprios
vazios estimulam meus comportamentos. Dói tomar consciência do que sou,
dissolver a imagem ideal que tenho de mim. Tranquiliza reconhecer meus limites,
o que me falta. Facilita agir a partir do que disponho. Fico do meu tamanho.
Ligo a TV e alguém
que não conheço me informa que preciso ter algo que antes desconhecia. Tenho em
mim agora uma necessidade. Se tenho recursos para supri-la, satisfação momentânea.
Se não, um sentimento de impotência, incompetência, outro vazio. Me faz mal,
muito mal, esta publicidade do que não me faz bem... nem está ao meu alcance.
Imagino crianças e
adultos inocentes, a todo momento chamados para novas necessidades que não têm
condições de adquirir. E que não suprem os afetos básicos, alicerces de
bem--estar de fato.
Por outro lado,
quando me permito estar bem comigo, trato aos próximos como trato a mim. Tão
simples. Posso fazer e faço. Torno melhor a mim, e ao mundo, com um abraço.
Luiz
Fernando Sarmento
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