uma vida
incomum como qualquer um 12
reflexos
2017
Empatia, aprendi
outro dia, acontece comigo quando sinto o sentimento do outro. Neste momento,
percebo, somos um.
Mas, ai, que
dificuldade d’eu ser eu mesmo diante do outro. Nem sempre. Com amigos, me sinto
à vontade, posso ser eu mesmo, espontâneo nos meus atos, nas minhas falas, do
meu jeito. E adoro estar à vontade com quem confio.
Descobri, dia
destes, que controlo quando desconfio, quando não confio. Por isto, cada vez
mais, procuro estar mais perto de quem confio, mais perto de quem me sinto à
vontade. Com quem posso ser eu. E vice versa.
Cultivo, assim,
amizades. A vida tem sido mais calma, mais gostosa. Relaxo, me tranquilizo,
quando estou entre amigos.
Tenho sido, também,
meu próprio amigo. Aprendo a cuidar de mim como cuido do outro. Meu eu se
amplia, meu mundo se expande. Estou gostando deste amadurecer. Tudo novo. Nunca
vivi, antes, o que vivo agora. Sempre foi assim e eu não sabia. Tudo novo, toda
hora. Obá!
Há tempos, um dia qualquer.
Ontem e hoje
misturados: tempos fora de ordem, as datas variam nestes escritos. Falo de
outros, falo de mim. Agenda tão cheia que não tenho tempo pra me aproximar de
mim mesmo. Escondo-me de mim no trabalho, não me dou limites. Só posso reclamar
ao espelho. Ajo como se não tivesse consciência.
Aparente let it
be, laissez-faire, deixa a vida me levar. Terapia Comunitária me
tocou, vou às aulas, pratico as rodas, decido internamente fazer um vídeo,
estou em produção. Escrever como aqui me tem feito bem. Levanto cedinho, três,
quatro vezes por semana, escrevo. Chega às minhas mãos uma transcrição da fala
do Dr. Luiz Moura no vídeo Auto-hemoterapia, já produzo a impressão de
livreto, penso agora como fazê-los chegar a quem precisa e se interessa.
2000 a 2011, de segunda a sexta, dia inteiro no Sesc, cuidando do que me propus,
burilando o que me decidiram. Antecipo, proponho movimentos antes que me
proponham. Sirvo ao público com o melhor de mim. Sou um servidor público. A
regra de ouro, presente, me tranquiliza: não faço a outros o que pra mim não desejo.
Tudo ao mesmo tempo
aqui e agora. Se reclamasse, seria de barriga cheia. Não tenho um comprimido em
casa, comida gostosa todo dia, banho quente ou frio, máquina de lavar,
lavanderia que leva e passa, arrumadores que varrem e cuidam, vizinhos que me
protegem, telefone que funciona, eu desligado da tv. É meu, meu tempo.
Preciso ser atento
e forte, não tenho tempo de temer a morte, agradeço a Caetano. Desejo recuperar meu humor primário.
Entreabro a porta de minha segunda infância.
Me angustio com os que perambulam sem tudo – afeto, trabalho, comida,
teto... Não sei o que fazer, dou um real aqui, um olhar ali, pago um prato.
Muito de vez em quando quero saber, converso. Quando não suporto, mudo de
calçada, o coração apertado, uma culpa danada.
Minha memória,
alguém me diz, é de peixe, esqueço nomes, fatos. O que me comprometo, anoto, agendo.
Quase tudo é como se fosse a primeira vez.
Ajudo meus filhos
quando cuido de minhas próprias angústias. Quando não transfiro meus desejos. Ajudo
mais se consigo compreendê-los, acolhê-los e a mim, lembrar-lhes quem somos.
Estas luzes são raras. O mais frequente, evito atrapalhá-los nas suas próprias
buscas.
Quando estou
equilibrado, aí sou bom. Suprido, escuto. Solidarizo, fortaleço. Enquanto não
sou assim – aos meus olhos quase perfeito – me proponho ser. Pisco, tropeço em
meus próprios buracos. Com dores, paro, sinto, reflito, experimento um passo
atrás, pro lado, pra frente. Vivo como aprendo a dançar. Este outro meu
capital, o que vivi, o que vivo.
Pausa pra escutar
os homens do Bope que na rua em frente correm agora cantando canções de
morte e guerra. Imagino se canções de ninar, de roda, de dança.
Antonio Faundez, em conversa com Paulo Freire, do que entendi,
utilizava a filosofia como meio para analisar a situação política, a vida no
mundo concreto. Estudava filosofia como uma maneira de se apropriar de conceitos,
de capacidade crítica para entender a realidade.
Pois é,
mais que penso, sinto. Logo, existo.
Luiz
Fernando Sarmento
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