Pra não ter mais agenda
Que bom poder decidir,
aqui, só, comigo, o que sou, o que desejo: ser meu próprio amigo.
Mentir pra mim, não
minto. O que penso, falo, vejo, o que ouço, faço, sinto.
Muito do que penso verdade - novela, show, ficção - vem
do que me disseram: notícias, informação. Verdades mesmo não eram. Meio falso,
meio vão. Cortinas, desvios, quimeras, meios d'incomunicação.
Se deixo vagar minha mente. Bem, se bem devagar. Esqueço,
desleixo, vago no ar.
Mais do que falo, mais do que penso, sou o que sou, sou é
imenso.
Ah! se cada policial
fosse assim como um gari que cuida de mim.
Servidor: antes de governar
a outros, governa a si e bem. A outros governa porque lhes quer bem.
Não há como fugir de
si: cada escolha é própria de quem cada escolha faz.
Laissez-faire, let it be, deixa a vida me levar: o mesmo desejo, aqui e ali.
Platão tinha razão: amo
o que não tenho, desejo o que me falta.
Aristóteles, também: amo
o que sou, amo o que tenho inda que nada tenha.
Há alguns anos, escrevi:
1
Ser ético, acredito, é um estado de espírito, quando a boa
vontade prevalece.
2
A existência de uma instituição pública só é possível pelo que
já tem: base política que possibilita base financeira, base física e, o próprio
fim e meio, base humana.
Quando a ética está presente, estas estruturas possibilitam um
cotidiano que inclui cuidados com os recursos, com os conteúdos, com os
públicos e com quem cuida. Todos ganham.
3
Conteúdos inadequados estimulam inclusões sociais subordinadas a
culturas retrógradas. Vide, por exemplo, grande parte dos programas de TV.
4
De outubro de 2000 a maio de 2011 trabalhei no Sesc Rio. Em
momentos inseguros, me pautei pela sua missão, vigente quando fui contratado. E
com a qual me identifiquei. Na tentativa de manter-me saudável, procurei a todo
momento separar minha loucura da do outro. Um tanto porque o que faz me sentir
ameaçado – e posso por isto adoecer – é ter minha vida pautada por quem não me
conhece e nem eu próprio conheço.
Escrevo isto, confesso, para manter-me vivo. Sei que quando a boca cala, o corpo fala. E quando a
boca fala, o corpo sara.
5
Agosto 2009. Ahora, além
de las redes comunitarias, las
terapias comunitarias. Gravo
algumas entrevistas, reuniões... e uma ou outra vai pro youtube e pra canais
comunitários de tv. Uma ideia anda me rondando, estamos devagarzinho
experimentando. Michel Robin tem viajado bastante pelo mundo, grupos com homens
especialmente... Auto-hemo volta e meia faço: o movimento se espalha pelo mundo.
Já há no youtube versão em espanhol. E logologo em inglês e esperanto. Tudo por
iniciativa de um e outro que tem se beneficiado.
No meio destes ventos, intuitivamente vou me organizando pra não
ter mais agenda. É o que desejo, acordar e descobrir o que fazer ou não. Saúde
boa, um pouco de ioga diária, alimentação mais pra leve. Filmes, mais as
comédias. Enfim, vida boa...
6
Do que me lembro, por orientação e insistência do meu querido
dentista, tomei alguns comprimidos quando do implante de quatro dos meus dentes.
Mas, fora isto, há mais de 10 anos não uso remédio alopático, de farmácia. Em
casa, nem mercúrio cromo. Gripe, passa longe. Dor de cabeça, estresse,
pânico... só sei de escutar. Exceção, A Maravilha
Curativa tenho em casa.
De um lado, procuro separar as loucuras que são minhas das
loucuras que são do outro. Ou as responsabilidades que são minhas das que são
de outros. Já não carrego nos ombros o que independe de mim. Sou só solidário. De
outro, nos últimos anos, uns meses sim, outros não, reforço minha imunidade ao
retirar um pouco de sangue de minha veia e aplicar em meus músculos. Nenhuma
contraindicação. Só saúde. É a auto-hemoterapia.
7
Me interesso pela articulação de uma rede de veiculação de
informações estimuladoras de crescimento emocional. Tenho, na verdade, visto
como folhas em branco de caderno novo estas oportunidades que, à primeira
vista, parecem problemas...
8
Estive em Vila Aliança ontem de novo. Impressionantes os
helicópteros blindados sobrevoando a comunidade, enquanto embaixo viaturas da polícia
e homens a pé buscavam seus alvos. Doze carros da imprensa acompanhavam a
invasão. O morador mais próximo sussura: lá
vão os urubus.
Nossa reunião de planejamento de Desenvolvimento Local de Vila
Aliança acontecia paralela e, conforme o local dos confrontos mudava, mudávamos
de sala. Sei que não sou de heroísmos, nem intenciono. Mas tudo isto reforça em
mim o valor do que fazemos, cuidando das plantinhas aqui dentro e lá fora. Mas
aprendi que só posso dar o que tenho...
Luiz Fernando Sarmento
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